sábado, 6 de fevereiro de 2010

Para reflectir...



“Ele não era meigo, eu gostava muito disso. Os homens meigos parece que pedem desculpa. Ele sabia muito bem o que fazia. Há quem ache que não há nada para saber, mas claro que há, e quando alguém sabe e mostra que sabe é muito bom. É como se fosse invadida. Acredita, aquele homem sabia muito, quando me fazia coisas que tu nem sabes como são ele não era meigo. Era um homem percebes? Os homens não têm de pedir desculpa. Já sei vais pensar que ele foi violento, não conheces meio termo, tu, quem não é doce é violento. E os violentos é que triunfam, dizias tu (…). Tu achas que um homem deve ser meigo e eu queria que fosses violento, tu querias uma espécie de igualdade, ou ficarias um degrau abaixo, tudo de porcelana, cuidadoso e frio e morto. (…) Era um homem com uma certa fama, mas eu sabia porque estive com ele algumas vezes, menos do que devia, e mesmo no primeiro ano do nosso casamento, quando tudo corria “bem”, (…) ele sabia coisas, e sabia-me bem e durante anos e anos soube-me bem pensar nele e no que ele me fazia, não dizem que a fantasia salva casamentos?, talvez se tenham esquecido da memória. A memória salva casamentos”.

In Pedro Mexia, Nada de Dois, Tinta da China

Joana e Vasco, em diálogos, seis ao todo, intimistas, quando os lemos, por vezes sentimos um “murro no estômago”, cruéis e doces, íntimos, raiva e amor, num misto de emoções.

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