domingo, 8 de março de 2009

Dia 8 de Março




Dia da Mulher

Rui Zink, escritor, 47 anos
Quando cheguei ao negócio da escrita, inícios de 80, já um ror de escritoras fazia parte da mobília, para não dizer do cânone, esse padrão dos descobrimentos em formato falo. Já ninguém tinha medo de Virgínia Woolf, Florbela Espanca, George Sand, Mary Shelley, Yourcenar, Sophia, Lispector, Duras. Talvez das três Marias, Teresa Horta, Isabel Barreno, Velho da Costa. Yvette Centeno e Ana Hatherly perturbavam um bocadinho porque eram de outro planeta, luminosas. E na universidade falava-se da Llansol. As mulheres eram uma minoria, talvez, mas uma senhora minoria. E os editores ainda usavam barba e cachimbo, mas em Frankfurt habituei-me a ver esses pobres dinossauros serem ultrapassados na fila, à má fila, por “mulherzinhas” com ar dócil, mas que lhes comiam as papas na cabeça. Hoje, agentes e editores são quase sempre mulheres, e está muito bem: negociadoras implacáveis. E ágeis. O lado mau deste reviralho é que o mundo editorial perdeu muita da sua lentidão. E há as tias, claro. Não lhes admiro a escrita, mas acho graça ao cocktail de candura, determinação e oportunismo. Mas talvez nenhuma escritora seja tão feminina como Agustina quando conta a saga de Quina, a sibila. Flaubert disse “Madame Bovary c’est moi”, mas referia-se ao livro em geral. Em 1956, já Agustina, a lida, sabe que é também Quina, a rural. Chama-se a isso arte.


in Público

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